Burnout em farmacêuticos hospitalares

Redação News Farma
05/12/14
Burnout em farmacêuticos hospitalaresO conceito de Burnout surge descrito pela primeira vez em 1974 pelo psiquiatra Herbert Freudenberger, como tratando-se de um desgaste ou esgotamento quando as exigências se tornam excessivas perante os recursos disponibilizados nos trabalhadores. É no entanto com Maslach que o conceito ganha mais notoriedade graças aos seus estudos aplicados a profissionais que lidavam diretamente com pessoas e ao desenvolvimento de uma escala que mede esta síndrome – Maslach Burnout Inventory.


O modelo apresentado por Maslach caracteriza-se por 3 dimensões: "Exaustão Emocional" que avalia as queixas relacionadas com o sentir-se no limite pelo trabalho, "Despersonalização" que mede respostas impessoais na atividade profissional e Realização Pessoal que avalia sentimentos de competência e sucesso no trabalho. Pontuações altas das duas primeiras dimensões e pontuações baixas da terceira dimensão indicam que estamos perante uma situação de Burnout.

Dentro do quadro clínico desta síndrome é comum encontrar manifestações emocionais (fracasso, esgotamento, baixa autoestima), sintomas físicos de stress (fadiga crónica, dores de cabeça) ou manifestações comportamentais (baixo rendimento pessoal, impaciência e irritabilidade). Tal quadro é responsável de uma percentagem considerável de absentismo laboral.

Várias populações profissionais foram alvo de estudo e diagnosticadas com esta síndrome, nomeadamente professores, alunos, assistentes sociais, psicólogos, policias, bombeiros, guardas prisionais, sendo na classe de profissionais de saúde onde encontramos mais estudos, principalmente em médicos e enfermeiros. Em Portugal estão descritos estudos, na sua maioria académicos, relativos à maioria das classes profissionais anteriormente descritas, no entanto, não se encontraram estudos realizados em farmacêuticos hospitalares.

Num contexto nacional de restrições e reorganização dos recursos humanos, consequência das políticas recentemente aplicadas ao setor da saúde, fruto também das diretivas internacionais e dada a escassez de dados relativos à síndrome de burnout na classe profissional concreta dos farmacêuticos hospitalares, considerou-se pertinente a realização deste estudo, com o objetivo de se poder medir, caso existisse esta síndrome nesta classe profissional em Portugal.

Para a elaboração do estudo, foram contactados em 2011, todos os farmacêuticos hospitalares registados na Ordem dos farmacêuticos (OF). A todos foi-lhes enviado por correio um questionário com dois instrumentos: um questionário com questões sociodemográficas e laborais e o Maslach Burnout Inventory. Dos 880 inscritos em atividade hospitalar e aos quais foi enviado o inquérito, obteve-se uma taxa de resposta de 33% correspondendo a 290 farmacêuticos hospitalares. Dos resultados obtidos é de realçar que a maioria dos participantes são casados 51,4%, com idades compreendidas entre os 23-44 anos, a realizar funções em instituições públicas (64,1%), com um tempo médio de serviço de 10,8 anos. Numa análise geral podemos afirmar que os participantes apresentaram níveis de exaustão moderados, baixos níveis de despersonalização e elevados níveis de realização pessoal, no entanto 13,9% apresentam níveis elevados de exaustão emocional, 6,7% de despersonalização e 0,4% níveis baixos de realização pessoal. Foram ainda encontradas diferenças estatisticamente significativas entre as variáveis situação contratual e despersonalização, características da instituição e exaustão emocional, grupo etário e exaustão emocional e despersonalização.

Estes achados demonstram a necessidade de promoção da saúde no trabalho e de implementação de estratégias que previnam a síndrome de burnout, levando assim à criação de um ambiente adequado ao bom exercício profissional. Só assim será possível uma melhor prestação de serviços ao doente.

Por Dr. João Soares, farmacêutico hospitalar do Hospital Fernando da Fonseca

Artigo publicado no Jornal do Congresso da 7.ª Semana APFH

Partilhar

Publicações