News Farma (NF) | Como se caracteriza o cancro da tiroide?
Dr.ª Maria João Oliveira (MJO) | Trata-se de um tumor maligno da tiroide, geralmente, com uma evolução lenta. Muitas vezes, é uma doença despercebida, sem nenhum sintoma específico, apesar de se manifesta por uma tumefação no pescoço. Esta pode ter um crescimento rápido ou endurecida, provocando, nos casos mais graves, uma rouquidão ou dificuldade na deglutição. Nos casos mais frequentes, é normal o nódulo da tiroide passar despercebido durante muito tempo até os doentes repararem na pequena tumefação localizada no pescoço.
NF | Como é realizado o diagnóstico?
MJO | Os endocrinologistas recomendar, em primeiro lugar, um exame físico com a palpação da tiroide. É importante realizar a ecografia em três situações específicas: se tiver presente sintomas; se o médico assistente detetar o nódulo; se existirem alterações da tiroide nos parâmetros analíticos. A ecografia não deve ser requisitada como rotina, porque há nódulos tiroideus sem importância que podem levar a um “sobrediagnóstico”. Deve ser realizada a ecografia como exame de primeira linha no diagnóstico do carcinoma da tiroide, no entanto, há indicações para a sua requisição.
Fazendo a ecografia e detetando um nódulo, se este tiver caraterísticas suspeitas ou se tiver mais de 1 cm e meio ou 2 cm, deve ser submetido a uma biopsia aspirativa para retirar algumas células desse nódulo que depois são coradas com corantes específicos para se distinguir se é um nodulo benigno ou maligno. O diagnostico é simples, rápido e fácil de realizar.
NF | Como decorreu o encontro no Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto (IPATIMUP), de forma a sensibilizar a população sobre esta doença?
MJO | Setembro foi o mês escolhido para a sensibilização para o cancro da tiroide. Apesar de ser um cancro com um bom prognóstico, é muito prevalente e, por isso, faz cada vez mais sentido assinalar o dia. O encontro realizou-se no IPATIMUP com uma sessão de perguntas e respostas com vários especialistas esclareceram questões sobre o diagnóstico e o tratamento da doença.
NF | Considera que a sensibilização da população para a doença pode contribuir para a procura do diagnóstico?
MJO | A sensibilização serve para divulgar a importância da glândula tiroideia.
Em Portugal, o diagnóstico é rápido e tem existido um aumento nos últimos anos. O essencial é fazer a população entender que o cancro da tiroide tem um bom prognóstico, mas que deve ser tratado por uma equipa especializada no tratamento desta doença.
NF | Tem existido um progresso nos estudos científicos relativos a esta doença?
MJO | Sim, tem existido algum progresso. Apesar do bom prognóstico e do tratamento, sendo muitas vezes cirúrgico ou uma cirurgia seguida da terapêutica com iodo radioativo, ultimamente, temos verificado que alguns tumores mais agressivos são menos diferenciados e acabam por ser resistentes principalmente ao iodo com radioativo. Nesses tumores, tem existido um grande progresso com o aparecimento de terapêuticas médicas, nomeadamente fármacos realizados por via oral que servem para parar a progressão desta doença, no caso de o carcinoma se tornar mais agressivo.
NF | Estão previstas mais campanhas de sensibilização para a divulgação do cancro da tiroide?
MJO | A Associação dos Doentes da Tiroide pretende ser muito ativa. Procuramos promover a literacia sobre a tiroide. Além desta sessão, haverá mais entrevistas na televisão. Habitualmente, escrevemos artigos sobre o cancro da tiroide. Trata-se de um tumor com uma percentagem de cura muito elevada com uma baixa mortalidade e é importante que os doentes sejam tratados em unidades com experiência neste tumor. Se os doentes forem bem acompanhados, o prognóstico é bom e, na sua maioria, ficam curados.