Ano novo, presidência e órgãos sociais novos. No entanto, a missão da Sociedade Portuguesa de Nefrologia mantém-se: promover a sustentabilidade financeira, manter a estabilidade da Sociedade, aumentar a formação e alertar para a doença renal crónica, em Portugal.
O Prof Doutor Edgar Almeida realça que a doença renal é “pouco sintomática” e com uma história natural prolongada, pelo que a sensibilização para os sintomas e queixas da população é uma tarefa complexa. Para isso, os profissionais de saúde envolvidos, não só os nefrologistas, devem manter-se alertas para a possibilidade da doença renal. “Infelizmente, temos a perceção de que um número significativo de médicos tem um grande desconhecimento da realidade da doença renal crónica.”
Neste sentido, a preocupação da Sociedade foca-se ainda mais na literacia dos próprios profissionais de saúde, sejam diabetologistas, médicos de Medicina Geral e Familiar, cardiologistas, já que todos trazem “um prisma diferente da mesma doença”. Mais ainda, a doença renal pode ser provocada pelo descontrolo da diabetes, obesidade, tabagismo, sedentarismo, aliado ao fator da idade. “O que queremos é que esses intervenientes que veem o doente tenham a capacidade de identificar quando a doença renal se instalou para referenciar atempadamente ou até para iniciar as medidas de proteção renal.”
O especialista destaca o número de portugueses que iniciam diálise ou necessitam de um transplante, em Portugal, aquando de uma fase terminal da doença renal. 220 pessoas por milhão de habitante é o valor que marca os relatórios anuais. “Esse número é dos mais altos da Europa” e continua a crescer. No entanto, este número tão elevado ainda não é compreendido pelos nefrologistas.
A acrescer a este valor, é desconhecido o número de pessoas que sofrem de doença renal. O presidente acredita que se verifica entre os 6,1 % e os 20,9 %, com base no estudo PREVADIAB, direcionado para a análise das pessoas com diabetes na sociedade portuguesa, o qual estudou também as análises da função renal, e RENA, mas que, “infelizmente”, não apresentou uma amostra significativa.
No Registo Europeu de Doença Renal, Portugal e Espanha apresentam a pior classificação, de acordo com alguns parâmetros estudados, isto é, são os países que registam os piores fatores de risco influenciadores da doença renal crónica. Apesar destes dados, “não é possível fazer uma transferência imediata destas duas realidades”.
A estes dados não muito promissores do panorama da doença renal crónica, em Portugal, alia-se a falta de referência desta patologia no Plano nacional de Saúde. “É uma doença que consome muitos recursos” e a Sociedade e os nefrologistas consideram essencial a sua inclusão. “Tinha expectativa de que, na reformulação do Plano, a doença renal fosse incluída, mas isso não aconteceu.”
Para colmatar esta falha, o presidente da SPN incentiva: “Compete aos nefrologistas alertar a tutela e a quem de direito para a necessidade de inclusão.” A acrescentar, este plano é de 10 anos, o que significa que só depois de vários anos é que a doença renal crónica poderá ser tida em consideração. A SPN acredita que será um “polo de ativação” para os poderes públicos e um meio de mobilização dos nefrologistas para esta luta.
O presidente destaca ainda o papel das sociedades de congéneres como os aliados perfeitos para um melhor diagnóstico e tratamento, porque “a Nefrologia não é um domínio isolado”. Além disso, realça o papel dos sócios: “São fundamentais para que a Sociedade faça sentido.” Por fim, o especialista convida todos os nefrologistas a fazerem parte da SPN.