Portugal: "O paraíso dos internistas"

07/07/22
Portugal: "O paraíso dos internistas"

“Na Europa, acho que há pouca compreensão do que é a Medicina Interna e do que pode ser potencialmente o papel dos internistas na organização dos Cuidados de Saúde.” Quem o afirma é o Dr. Vasco Barreto, internista no Hospital Pedro Hispano, no âmbito da sua eleição para secretário-geral da European Federation of Internal Medicine (EFIM). Em entrevista, o único representante português no comité executivo destacou a heterogeneidade da Medicina Interna a nível europeu e a baixa literacia dos profissionais de saúde e dos decisores políticos. Assista ao vídeo.

Ser secretário-geral da EFIM representa “um grande desafio e um acréscimo de responsabilidade”, partilha. Portugal é considerado “o paraíso dos internistas” por a Medicina Interna, no nosso país, ter “um papel bastante relevante no sistema de saúde e na organização hospitalar”. Perante este panorama, o especialista e único membro português do comité executivo da EFIM propõe-se a transmitir os melhores exemplos e visão portuguesa da Medicina Interna, já que, partilha, “muitos países ficam com inveja da realidade portuguesa”.

Quando questionado sobre os principais desafios de ser secretário-geral da EFIM, o Dr. Vasco Barreto questiona: “Qual o papel que a Medicina Interna desempenha nos sistemas de saúde de cada um desses países?” O especialista acredita que este é o principal desafio e a questão em aberto que precisa de ser compreendida, considerando que a EFIM conta com 37 sociedades nacionais e mais de 50 mil internistas.

“É, portanto, um assunto de bastante complexidade, como, aliás, outros assuntos europeus são, por existir muita heterogeneidade na Europa, e na Medicina Interna não é diferente.” Tal comprova-se pela partilha do testemunho do especialista sobre os modelos de formação médica. Portugal, Espanha e Itália, por exemplo, “apresentam a Medicina Interna como uma especialidade final”, em que uma pessoa tem de realizar uma especialização de cinco anos para se tornar internista.

Em oposição, os países do norte da Europa regem-se pelo sistema de dupla titulação, em que nos primeiros anos são internistas generalistas e só depois da segunda titulação é que se especializam numa área como a Cardiologia ou Pneumologia. “O que acontece é que a Medicina Interna Geral praticamente desapareceu”, sem sinais da sua existência nos hospitais, reflete, “esta é uma grande diferença entre países europeus”. Tentar compatibilizar estas diferenças na identidade da especialidade “é difícil, para não dizer que é impossível”.

A acompanhar o défice na formação e a dificultar o papel da EFIM, os profissionais de saúde e até decisores políticos apresentam um baixo nível de conhecimento sobre o papel dos internistas na organização dos cuidados de saúde.

No entanto, os médicos generalistas são “fundamentais”; devido à demografia atual e à evolução das patologias, os doentes devem ser encarados como “um todo” e o melhor conhecedor de todas as especialidades são os internistas. Contudo, assiste-se a uma progressiva especialização nas especialidades, remando contra o necessário. É preciso compreender que “são os internistas que fazem esse papel”, nos hospitais, e deve-se, em primeiro plano, manter a realidade portuguesa e melhorar as realidades estrangeiras.

Considera que ainda existe “muita margem de crescimento para as áreas de intervenção da Medicina Interna, na Europa”. A hospitalização domiciliária, as unidades de diagnóstico rápido, as equipas de suporte a doentes complexos são “oportunidades de crescimento” para os internistas.

Em suma, a EFIM e o Dr. Vasco Barreto, enquanto secretário-geral, pretendem, em primeiro lugar, “afirmar a importância e a identidade da Medicina Interna em países em que seja residual”. Além disso, a fomentação dos grupos de trabalho para incutir a mentalidade de que “não é sustentável ter um sistema de saúde que funcione à base do internamento e do serviço de urgência” é fundamental. Por isso, “encontrar pontos de contacto e interesses comuns a todos os internistas destes diferentes países” pode ser uma solução alternativa para um espaço em que os internistas podem realmente fazer a diferença.

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