Ansiedade afeta cerca de 16,5% da população portuguesa com inúmeras formas de manifestação

Redação News Farma
18/02/13

Prof. António Pacheco PalhaA ansiedade é uma reação normal da vida social. No entanto, ao atingir determinados níveis, torna-se patológica e necessita ser tratada. Esta é uma situação com elevada frequência em Portugal e pode manifestar-se de inúmeras formas.


Cerca de 16,5% da população portuguesa sofre de patologias do espetro da ansiedade. Quem o afirma é o Prof. António Pacheco Palha, ex-presidente da Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde Mental (SPPSM), desde 2010, até ao final do ano passado, citando um estudo efetuado, há cerca de dois anos, pela Escola de Ciências Médicas de Lisboa, sob a coordenação do Prof. Caldas de Almeida.

“A ansiedade é uma manifestação normal da vida social, sendo persistente ou repetitiva nas pessoas. Contudo, quando atinge um nível de intensidade grande e afeta o dia-a-dia, altera a qualidade de vida e interfere com a capacidade, eficiência e adaptação de uma pessoa às exigências quer profissionais, quer familiares. Ela está doente e precisa de tratamento, pois está num registo diferente daquele que seria o normal”, refere.

Este é um estado que tem inúmeras formas de se manifestar. Segundo refere o psiquiatra, existe a ansiedade que interfere com a rotina diária e que leva a pessoa a sentir inseguranças em relação à execução das suas tarefas, ou em termos de manifestação no corpo, afetando a sua saúde física, situação em que pensa que algo está mal, passando a ter uma focalização no seu corpo e a ter um comportamento hipocondríaco.

Há, ainda, a ansiedade em resposta a um estímulo em específico e, neste caso, trata-se de uma fobia. António Pacheco Palha dá exemplos: o medo de andar de comboio, de andar sozinho na estrada, a dificuldade em atravessar pontes ou de estar em locais com muita gente. No estudo referido, a prevalência de fobias específicas era de 8,6%.

“Estas fobias fazem com que as pessoas fujam de determinado estímulo. Elas não estão doentes, não apresentam qualquer queixa se deixarem de enfrentar os estímulos, mas o facto é que têm uma qualidade de vida diminuída, por não serem livres de fazerem tudo o que querem”, observa, salientando que estas situações podem tratar-se, e com alguma facilidade, desde que seja seguido um plano.

“Estas formas de manifestação são muito prevalentes na população. As pessoas consideram que se trata de ‘manias’, de ‘medos’, e pensam que não se podem tratar, o que é uma pena, porque são situações que podem ser resolvidas”, refere.

Além disso, existe outra situação clínica muito ligada às fobias: o pânico. “Esta é uma condição que assusta muito o indivíduo. Caracteriza-se por intensa aflição e por uma instabilidade muito grande, tanto pela componente física, como pela psicológica, que faz com que se sintam em risco e corram para a urgência hospitalar”, indica António Pacheco Palha, mencionando que quanto mais precocemente se tratar estes casos melhor.

Uma população mais informada sobre Psiquiatria

Atualmente, ao contrário do que se passava anteriormente, a Psiquiatria já não é vista com maus olhos por parte da população e há cada vez menos problemas em procurar um especialista nesta área. Contudo, embora esteja já “muito popularizada”, existe ainda uma ideia errada sobre esta especialidade médica. “O psiquiatra ainda é visto como o médico que prescreve remédios e não percebe as pessoas, quando o verdadeiro psiquiatra é aquele que conhece o doente, sabe a sua história de vida e tem tempo e espaço para o ouvir. Ou seja, tem grande valia, componente psicológica que é fundamental para se conceber uma estratégia terapêutica”, explica.

Apesar de haver menos estigma e dificuldade por parte das pessoas em aceitar que precisam de ajuda psiquiátrica, o certo é que os doentes chegam à consulta, muitas vezes, em estados de doença já avançados. Nesse sentido, António Pacheco Palha alerta para a importância de se efetuar um diagnóstico precoce que, segundo informa, é “essencial para travar o progresso de uma doença e melhorar o prognóstico”.

Para que tal aconteça, o ex-presidente da SPPSM considera também necessário formar os especialistas de Medicina Geral e Familiar, que estão mais perto da população, assim como os enfermeiros, de forma a “treinar as suas perícias de diagnóstico em relação às situações mais comuns”.

Voltando a referir que este é “um combate já quase ganho”, o psiquiatra menciona que, para que haja um melhor conhecimento e aceitação da especialidade, assim como respeito pelos doentes psiquiátricos, devem ser realizadas campanhas de educação para a sociedade em geral, começando pelas escolas.

Para terminar, António Pacheco Palha não quer deixar de referir a importância que a SPPSM pode ter em termos de esclarecimento destes temas. “Esta é uma Sociedade científico-médica aberta, não só para realizar formações dentro de especialidade, mas também para participar em atividades educativas a nível das comunidades. Para além dos psiquiatras, a SPPSM interessa-se, também, pelo apoio à formação de outros profissionais de saúde e pela informação clara e correta para a população em geral, desejando que tenha uma atividade mais presente junto da comunidade portuguesa”, conclui.

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